cultura arte e pesquisa

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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

SOBRE O ESPETÁCULO “ODETE, TRAGA MEUS MORTOS”.


“Odete, traga meus mortos” foi por mim assistido no espaço Xisto Bahia no mês de setembro de 2010, como parte da programação do I Encontro de Dança Inclusiva, O Que é Isto?
É um espetáculo de dança-teatro, que tem em seu elenco Edu O. e Lucas Valentim que assumem em parceria a coreografia e trata da relação das ausências de pessoas, lugares, situações e objetos.
O espetáculo foi inspirado por ocasião de uma viagem para França em que Edu tem uma experiência em uma família tradicional, onde na hora do café uma senhora pede para a empregada trazer um jornal dizendo: “Odete, traga meus mortos”.
“Odete” começa num clima de comemoração, logo na entrada nos deparamos com uma mesa posta com xícaras, copos, chás e biscoitos onde o público é convidado para se sentar como se fossem convidados para uma reunião entre amigos. O público sentado observa a atuação dos atores-dançarinos que pegam, cada um, um par de botas de borracha e em seguida colocam nas mãos calçando-as. As botas atuam como se as mãos fossem os pés dos interpretes que em momentos variados se locomovem pelo palco.Edu O. explora as particularidades de seu corpo (cadeirante) e leva Lucas Valentim a segui-lo pelo palco da mesma forma, se locomovendo e dançando ora sozinho ora com o personagem de Lucas.Edu propõem possibilidades poéticas de dança com as botas juntamente com Lucas,deixando a cadeira em segundo plano para a sua movimentação.Edu não só propõem estas possibilidades com o seu corpo, mas um olhar e um pensar sem preconceitos para a atuação do artista com deficiência.
Com uma temática que aborda os ritos de passagens, as ausências, o parti e a presença, os personagens de Edu e Lucas baseiam-se na técnica de improvisação e da técnica de clown, também o cenário favorece um clima nostálgico e poético onde acontecem leituras e relatos em cartas dialogando com a literatura.
As linhas de trabalho utilizada no espetáculo possibilitam um intérprete-criador e improvisador, que em certos momentos do espetáculo atuam em cenas que interagem com a platéia, convidando-os para sentar a mesa, tomar chá e comer os biscoitos e em dado momento pergunta para os convidado sobre alguma história que gostariam de contar,deixando-os bem a vontade para ficar ou sair da mesa enquanto atuam.
Odete, traga meus mortos é um espetáculo que faz refletir e pensar em todos os acontecimentos da vida, da memória corporal, as sensações, as percepções e as experiências que ficam gravadas em nós. De tudo que está ao nosso redor e da eterna busca de suprir as ausências, sejam elas de coisas, lugares e pessoas. De como o outro interfere nas nossas atitudes, pensamentos e quereres.



Ana Cléia Neri Alves
Aluna da Disciplina Questões de Artes Cênicas enquanto fenômeno da Estética, impactos e receptividade– Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas-UFBa.

Um comentário:

  1. Menina, vc nem me falou q tinha escrito este texto! que lindo!! muito obrigado. adorei!!!!

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