cultura arte e pesquisa

cultura arte e pesquisa

quarta-feira, 23 de março de 2011

camuflados


camuflados, upload feito originalmente por Cléia Alves.

Tentando voltar pra minhas origens...um dia voltarei.

Dias de muito calor em Belo Horizonte


Dias de muito calor em Belo Horizonte, upload feito originalmente por Cléia Alves.

Passeando pela Praça da Estação em Belo Horizonte... vejo homens tomando banho e logo meu olhar e registrado em minha máquina.

O problema do Crítico de artes...

Por Augusto Domingos


A crítica pode ser sem dúvida, uma grande aliada do artista; é o por meio dela, que o mesmo pode entender seu o processo de criação. A crítica serve aos autores, como a ressonância da sua obra, em relação ao seu tempo, espaço, e sua relevância para a história.


O processo de formação do artista contemporâneo se dá por meio da afirmação da sua originalidade, este processo está crucialmente imbricado com a necessidade que o mesmo tem de entender, como se estabelece, o diálogo entre sua obra e o contexto (o cotidiano), qual é o impacto que a mesma produz na comunidade? Como o meio percebe o seu processo criativo? Qual a relevância do seu trabalho para a história?


À estas perguntas, a crítica procurar responder por meio do olhar treinado do crítico de arte. Este por sua vez deve ser imparcial e dialético, não pode limitar-se apenas ao campo esteticista, pois, o que importa, é o diálogo do artista com seu tempo.


Pois, esta questão esta ligada a uma cadeia de implicações, que envolvem o caráter político, filosófico, sociológico, e cultural, assim e, portanto, uma crítica de arte, pode ser também uma abordagem antropológica, desta forma, a crítica de arte não pode pretender estabelecer regras para o processo de criação, e nem levantar bandeiras de tendências; como uma crítica militante. Pois uma crítica em arte pode, é também, uma teoria sobre a arte, logo é uma teoria sobre a cultura, deste modo a crítica virá uma descrição densa, uma etnografia.


Marx Weber, afirma que o homem é amarrado à teias de significados criados por ele mesmo, que as teceu. Assim vejo a cultura como sendo estas teias, suas análise portanto, não é uma ciência experimental que busca leis, mas, como uma ciência interpretativa, que procura significados. (GEERTZ,1978:15).


Ao crítico compete à articulação da teia interdisciplinar, que vai convergir para o paradoxo, entre subjetividade e objetividade, por meio de um diálogo interativo entre a obra de arte e seu contexto. Esta interação se dá por meio de uma ação dialética entre os atores da cena, originando um fluxo dinâmico entre ideia e tempo. Só assim, a crítica pode ser entendida como uma abordagem rigorosa e relevante sobre a obra do artista e seu valor contextual.


Trata-se de uma questão de alteridade, ou seja, o importante é a observação do outro, é dialogar com o outro, nos colocando no lugar do outro, transitando da subjetividade para a objetividade do outro. Um olhar dialético, e vertical, que vai em busca daquilo que está por detrás do fenômeno.


Assim de forma epistemológica, podemos afirmar sobre a evolução dos termos, crítico, crítica, e arte, nesta abordagem, o crítico se transforma em teórico, e sua crítica, em teoria, abandonando a posição de mero comentarista estético, para debruçar-se sobre novos paradigmas, buscando uma teoria sobre a arte e o artista do seu tempo e isso, por meio de uma descrição densa, do conjunto significativo que integram o universo simbólico da comunidade onde o fenômeno arte é produzido.
A descrição densa é um olhar microscópico, onde o antropólogo se confronta com as mesmas grandes realidades que os outros cientistas sociais (poder, mudanças, opressão), mas ele as confronta em um contexto muito obscuro e diminuto, para retirar destes o essencial. Assim perde-se de vista o ideal iluminista de Lévi-Strauss, pois não é, mais possível encontrar a unidade psíquica do pensamento, é preciso olhar as situações concretas, se não, vejamos, a capacidade de falar é inata, mas, a capacidade de falar um idioma é uma capacidade especifica é cultural (GEERTZ, 1978).


tico torna-se um ator social relevante para a mediação entre sujeito, contexto obra de arte. Uma teoria sobre as artes pode se dá por meio de uma abordagem distanciada onde o teórico desenvolve uma constatação superficial da realidade.


Segundo Popper 2009, uma hipótese corroborada é uma hipótese aceita provisoriamente pela comunidade científica, mas cujo destino natural é serem, um dia, desmembradas pela superveniência de novos factos, as teorias mais válidas nunca são teorias verdadeiras, mas apenas teorias que ainda não são falsas.Assim o crí

Assim uma teoria de arte só se sustenta se for por meio de uma interação onde o objetivo, não é de padrões normativos e critérios teóricos para determinar o fazer artístico, mas sim, busca compreender os fatores que determinam o fenômeno que é este fazer, e esta compreensão só pode se dá por meio da articulação dinâmica entre, tradição e influências.


A arte na cultura...


Assim a arte é vista, como um sistema próprio dentro da cultura, um bem geral, um bem público, pois é o resultado de um conjunto simbólico particular, é um fenômeno cultural, e esta cultura é produzida em uma realidade particular, por meio de um sistema geral de formas (GEERTZ).
Para um conceito Popperiano uma teoria não é de forma alguma um sucedâneo da ‘confirmação’ carapina; uma hipótese corroborada é uma hipótese aceite provisoriamente pela comunidade científica, mas cujo destino natural é ser, um dia, desmembrada pela superveniência de novos factos.


A arte só pode ser compreendida pelos homens, à medida que todos participam de alguma forma do seu sistema simbólico, simplesmente definido como cultura. A arte não pode se resumir a um cunho restrito a determinadas classes, e, a grupos de especialistas. (GEERTZ)


Segundo o autor, mesmo a despeito dos inúmeros especialistas, técnicos e críticos que se valem de linguagens herméticas nos discursos sobre a arte, a maior parte dos homens, em diferentes culturas, “se congregam ao redor da arte para conectar suas energias específicas à dinâmica geral das experiências simbólicas que chamamos de cultura”.


Assim uma teoria sobre a arte, pode ser profundamente perigosa, se a mesma busca tornar-se num juízo de valor qualitativo das multiformas artísticas, esta abordagem é intervencionista, e se antagoniza com ideia de pluralidade e diversidade ora afirmadas pela UNESCO. Desta forma a teoria caminha para sua morte, limitada ao cientificismo, e ao academicismo.


O academicista busca impor uma pedagogia fortemente sistemática, hierarquizada e ortodoxa. Esta pedagogia converge para o exclusivismo excludente, onde se perde de vista o foco da observação do fenômeno cultura, e o seu significado como conjunto de símbolos de uma sociedade, assim o academicista busca impor o dirigismo teórico, como produto da soberba que busca se sobrepor as variantes dos fatos.


Assim se o sistema arte é uma seção do sistema cultural, logo uma teoria da arte é ao mesmo tempo uma teoria da cultura e não é empreendimento autônomo, é este sistema particular que chamamos de arte, só é possível por meio da sua participação no sistema geral de formas.


Então quando o teórico se torna um dirigista, estamos diante de uma situação perigosa, não só para as artes, mas para qualquer campo do fazer humano, pois, trata-se de um olhar restrito, onde de forma sutil a questão da sensibilidade surge como uma força hermética, legada apenas a parte, mas preparada da sociedade, os eruditos.

Assim ao atermos nosso olhar sobre a lupa fina da ideologia, podemos concluir que caminhamos para um paradoxo perigoso orientado por uma visão classista da questão onde a pergunta a responder é: existe uma arte nobre, desenvolvida pelos eruditos? Ao mesmo tempo existe uma arte decadente relacionada às minorias politicas? Este paradoxo nos reporta a existência de duas categorias artísticas: 1, aquele que se enquadra ao chamado padrão de qualidade erudito acadêmico, 2 aquele que não satisfaz o referido padrão, pois as forças que produzem o mesmo não são possuidoras da chamada sofisticação como geradora das formas.


Este olhar nos coloca diante de uma visão ortodoxa e exclusivista da boa obra de arte, que só seria alcançada pela “lupa fina” do intelectual, e este por sua vez acabará buscando submeter o publico ao privado, como forma de restringir ainda mais o acesso aos meios de produção, para que estes sirvam apenas aos seus interesses de realização desta elite intelectual.


”Mesmo a respeito do significado cultural atribuído a arte, ela é um acontecimento local, mesmo que as qualidades intrínsecas que transformam a força emocional em coisas concretas” possam ser universais, aborda Geertz. E ainda, entender a arte significa entender a cultura de um povo ou grupo, assim como entender os costumes, hábitos, crenças, valores e instituições de um povo, implica em entender a arte, como um sistema de signos e símbolos.


A arte, enfatiza o mesmo, não é autônoma. Logo uma teoria da dança, é também uma teoria da sobre a arte, e logo uma teoria da arte se transforma em uma teoria da cultura. De modo que um olhar puramente estético, se torna num projeto maniqueísta, nos arrastando para o terreno perigoso do teoricismo conceitual, que impõem ao artista o abandono da sua irreverência sensorial, para que o mesmo se torne refém do esquematismo tecnicista, para produzir uma arte que não é feita com as coisas da emoção,


Mas sim com a chamada racionalidade cientifica...


Será este o papel da arte?




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